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Alexandre de Moraes manda recolher 'Diário da cadeia', livro de Ricardo Lísias lançado pela Record: A polêmica envolvendo censura e liberdade de expressão no Brasil

Foto do escritor: Raul SilvaRaul Silva

Atualizado: 26 de jan.

Decisão do Supremo Tribunal Federal levanta questões. sobre os limites da liberdade artística e o controle governamental sobre a produção literária no Brasil.


Por: Raul Silva - Radar Literário.


O ministro Alexandre de Moraes toma posse na presidência do Tribunal Superior Eleitoral (TSE)
O ministro Alexandre de Moraes toma posse na presidência do Tribunal Superior Eleitoral (TSE)

O cenário da literatura brasileira foi abalado por uma decisão controversa do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), que ordenou o recolhimento do livro Diário da Cadeia: Com Trechos da Obra Inédita Impeachment, de Ricardo Lísias, publicado pela Editora Record. A decisão trouxe à tona um debate intenso sobre os limites da liberdade de expressão, os direitos de personalidade e o papel do Judiciário na regulação da criação artística. O caso envolvendo o ex-deputado Eduardo Cunha, cuja imagem e nome foram usados como pseudônimo no livro, reacendeu as discussões sobre o equilíbrio entre a proteção individual e a pluralidade de vozes em uma democracia.


A obra em questão, lançada em 2017, apresenta-se como uma narrativa ficcional, escrita em primeira pessoa, sobre um político preso. Desde o início, a escolha do pseudônimo “Eduardo Cunha” chamou atenção, especialmente devido ao contexto político em que o verdadeiro Cunha se encontrava: preso e sob intensa exposição midiática após os desdobramentos da Lava Jato. O livro mistura humor, sátira e críticas ao sistema político brasileiro, mas a linha entre a ficção e a realidade foi considerada tênue demais pelo ex-deputado, que alegou que a obra comprometia sua honra e causava confusão ao público, dando a impressão de que ele próprio era o autor.


Eduardo Cunha ajuizou uma ação judicial alegando que o livro violava seus direitos à honra, imagem e privacidade. Ele argumentou que a utilização de seu nome como pseudônimo constituía um abuso da liberdade de expressão e uma estratégia comercial ardilosa, que se aproveitava de sua notoriedade e de sua situação para alavancar vendas. Cunha também destacou que o livro incluía referências explícitas à sua vida pessoal, como menções ao seu nome completo, à sua esposa e até mesmo ao time de futebol que apoia, o que, segundo ele, tornava a obra um ataque direto à sua imagem.



O caso chegou ao Supremo Tribunal Federal, onde o ministro Alexandre de Moraes enfrentou a tarefa de ponderar dois direitos fundamentais em conflito: de um lado, a liberdade de expressão, garantida pelo artigo 5º, inciso IX, da Constituição Federal; de outro, o direito à honra, à imagem e à privacidade, protegidos pelo mesmo artigo, no inciso X. A decisão de Moraes foi clara: embora a liberdade de expressão seja essencial para uma sociedade democrática, ela não é absoluta. O ministro ressaltou que, quando exercida de maneira abusiva, a liberdade de expressão pode ser limitada para proteger outros direitos igualmente fundamentais.


Em sua decisão, Moraes determinou o recolhimento do livro das livrarias e impôs à Editora Record e a Ricardo Lísias a obrigação de esclarecer publicamente que a obra era ficcional e que Eduardo Cunha não tinha qualquer envolvimento com sua produção. Além disso, os réus foram condenados a pagar uma indenização de R$ 30 mil ao ex-deputado por danos morais. O ministro também enfatizou que o uso de um “pseudônimo homônimo” em um contexto que poderia confundir o público configurava uma violação ao direito de Cunha de controlar o uso de seu nome e imagem.


A decisão, no entanto, gerou críticas no meio literário e jurídico. Muitos consideraram a medida uma forma de censura, argumentando que a proibição de uma obra literária compromete a liberdade artística e cria um precedente perigoso para a criação cultural no Brasil. Autores, editores e advogados destacaram que a ficção tem como característica fundamental o uso de elementos da realidade para construir narrativas que questionem, critiquem ou até mesmo satirizem o status quo. Nesse sentido, argumentaram que a decisão de Moraes abriu espaço para a judicialização da arte e para a autocensura, já que escritores poderiam temer represálias judiciais ao abordar temas ou personagens polêmicos.


Por outro lado, defensores da decisão argumentaram que ela reforça a necessidade de responsabilização no uso da liberdade de expressão. Eles destacaram que o uso do nome de Eduardo Cunha como pseudônimo, aliado ao contexto político e às referências pessoais incluídas no livro, ultrapassou os limites da ficção e causou prejuízos concretos à imagem do ex-deputado. Para esses críticos da obra, a decisão do STF foi um exemplo de como os direitos individuais podem e devem ser protegidos, mesmo em face da liberdade artística.


Esse caso é um exemplo emblemático das tensões que marcam o debate sobre liberdade de expressão no Brasil. Ele evidencia como questões fundamentais para a democracia, como a liberdade criativa, podem entrar em conflito com os direitos individuais, exigindo um equilíbrio delicado. Além disso, a decisão do STF levanta questões importantes sobre o papel do Judiciário na regulação da cultura e da arte. Até que ponto os tribunais devem interferir na criação artística? Quando a proteção de direitos individuais se transforma em censura?


Ricardo Lísias, por sua vez, defendeu veementemente sua obra e sua liberdade criativa. Ele afirmou que o uso do pseudônimo e das referências pessoais foi uma escolha literária, destinada a satirizar o cenário político brasileiro e a estimular a reflexão crítica sobre os eventos que moldaram o país nos últimos anos. Para Lísias, a decisão de recolher o livro representou uma violação à liberdade de expressão e um ataque à autonomia do autor.


No final, o caso de Diário da Cadeia não é apenas sobre um livro ou um autor. Ele é um reflexo das disputas mais amplas sobre os limites da liberdade em uma sociedade pluralista, onde os direitos de indivíduos e as demandas por justiça social frequentemente entram em choque. Ele nos lembra que a literatura, mesmo em sua forma mais satírica e provocadora, tem o poder de iluminar as contradições e as complexidades do mundo em que vivemos. E, talvez, essa seja a maior prova do impacto de uma obra: a capacidade de gerar debates e reflexões que ultrapassam as páginas de um livro e se tornam parte da conversa nacional.O cenário da literatura brasileira foi abalado por uma decisão controversa do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), que ordenou o recolhimento do livro Diário da Cadeia: Com Trechos da Obra Inédita Impeachment, de Ricardo Lísias, publicado pela Editora Record. A decisão trouxe à tona um debate intenso sobre os limites da liberdade de expressão, os direitos de personalidade e o papel do Judiciário na regulação da criação artística. O caso envolvendo o ex-deputado Eduardo Cunha, cuja imagem e nome foram usados como pseudônimo no livro, reacendeu as discussões sobre o equilíbrio entre a proteção individual e a pluralidade de vozes em uma democracia.


A obra em questão, lançada em 2017, apresenta-se como uma narrativa ficcional, escrita em primeira pessoa, sobre um político preso. Desde o início, a escolha do pseudônimo “Eduardo Cunha” chamou atenção, especialmente devido ao contexto político em que o verdadeiro Cunha se encontrava: preso e sob intensa exposição midiática após os desdobramentos da Lava Jato. O livro mistura humor, sátira e críticas ao sistema político brasileiro, mas a linha entre a ficção e a realidade foi considerada tênue demais pelo ex-deputado, que alegou que a obra comprometia sua honra e causava confusão ao público, dando a impressão de que ele próprio era o autor.


Eduardo Cunha ajuizou uma ação judicial alegando que o livro violava seus direitos à honra, imagem e privacidade. Ele argumentou que a utilização de seu nome como pseudônimo constituía um abuso da liberdade de expressão e uma estratégia comercial ardilosa, que se aproveitava de sua notoriedade e de sua situação para alavancar vendas. Cunha também destacou que o livro incluía referências explícitas à sua vida pessoal, como menções ao seu nome completo, à sua esposa e até mesmo ao time de futebol que apoia, o que, segundo ele, tornava a obra um ataque direto à sua imagem.


O caso chegou ao Supremo Tribunal Federal, onde o ministro Alexandre de Moraes enfrentou a tarefa de ponderar dois direitos fundamentais em conflito: de um lado, a liberdade de expressão, garantida pelo artigo 5º, inciso IX, da Constituição Federal; de outro, o direito à honra, à imagem e à privacidade, protegidos pelo mesmo artigo, no inciso X. A decisão de Moraes foi clara: embora a liberdade de expressão seja essencial para uma sociedade democrática, ela não é absoluta. O ministro ressaltou que, quando exercida de maneira abusiva, a liberdade de expressão pode ser limitada para proteger outros direitos igualmente fundamentais.


Em sua decisão, Moraes determinou o recolhimento do livro das livrarias e impôs à Editora Record e a Ricardo Lísias a obrigação de esclarecer publicamente que a obra era ficcional e que Eduardo Cunha não tinha qualquer envolvimento com sua produção. Além disso, os réus foram condenados a pagar uma indenização de R$ 30 mil ao ex-deputado por danos morais. O ministro também enfatizou que o uso de um “pseudônimo homônimo” em um contexto que poderia confundir o público configurava uma violação ao direito de Cunha de controlar o uso de seu nome e imagem.


A decisão, no entanto, gerou críticas no meio literário e jurídico. Muitos consideraram a medida uma forma de censura, argumentando que a proibição de uma obra literária compromete a liberdade artística e cria um precedente perigoso para a criação cultural no Brasil. Autores, editores e advogados destacaram que a ficção tem como característica fundamental o uso de elementos da realidade para construir narrativas que questionem, critiquem ou até mesmo satirizem o status quo. Nesse sentido, argumentaram que a decisão de Moraes abriu espaço para a judicialização da arte e para a autocensura, já que escritores poderiam temer represálias judiciais ao abordar temas ou personagens polêmicos.


Por outro lado, defensores da decisão argumentaram que ela reforça a necessidade de responsabilização no uso da liberdade de expressão. Eles destacaram que o uso do nome de Eduardo Cunha como pseudônimo, aliado ao contexto político e às referências pessoais incluídas no livro, ultrapassou os limites da ficção e causou prejuízos concretos à imagem do ex-deputado. Para esses críticos da obra, a decisão do STF foi um exemplo de como os direitos individuais podem e devem ser protegidos, mesmo em face da liberdade artística.


Esse caso é um exemplo emblemático das tensões que marcam o debate sobre liberdade de expressão no Brasil. Ele evidencia como questões fundamentais para a democracia, como a liberdade criativa, podem entrar em conflito com os direitos individuais, exigindo um equilíbrio delicado. Além disso, a decisão do STF levanta questões importantes sobre o papel do Judiciário na regulação da cultura e da arte. Até que ponto os tribunais devem interferir na criação artística? Quando a proteção de direitos individuais se transforma em censura?


Ricardo Lísias, por sua vez, defendeu veementemente sua obra e sua liberdade criativa. Ele afirmou que o uso do pseudônimo e das referências pessoais foi uma escolha literária, destinada a satirizar o cenário político brasileiro e a estimular a reflexão crítica sobre os eventos que moldaram o país nos últimos anos. Para Lísias, a decisão de recolher o livro representou uma violação à liberdade de expressão e um ataque à autonomia do autor.


No final, o caso de Diário da Cadeia não é apenas sobre um livro ou um autor. Ele é um reflexo das disputas mais amplas sobre os limites da liberdade em uma sociedade pluralista, onde os direitos de indivíduos e as demandas por justiça social frequentemente entram em choque. Ele nos lembra que a literatura, mesmo em sua forma mais satírica e provocadora, tem o poder de iluminar as contradições e as complexidades do mundo em que vivemos. E, talvez, essa seja a maior prova do impacto de uma obra: a capacidade de gerar debates e reflexões que ultrapassam as páginas de um livro e se tornam parte da conversa nacional.

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