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CRÍTICA – ORGULHO E PRECONCEITO – JANE AUSTEN

Foto do escritor: Raul SilvaRaul Silva

Esse é um livro em que, de certa forma, temos quase todas as características de um livro ou romance de YA dos dias de hoje. Na primeira parte da história, o livro parece ser apenas sobre jovens meninas em busca do homem ideal para se casar – algo que está muito em destaque devido, principalmente, ao comportamento da mãe das garotas, a Sra. Bennet.


Temos aqui, todos aqueles momentos que hoje em dia são meio clichês em histórias desse tipo. De um lado temos o rapaz bonitão, ou, no caso, o homem rico e bem-sucedido que, devido a sociedade da época, está na idade de casar e constituir família. Do outro, temos a garota delicada e doce, que enxerga sempre o melhor das pessoas e sua irmã superinteligente e bonita que é uma força da natureza e não leva desaforo para casa. Isso, de certa maneira, me lembrou muito esses filmes adolescentes americanos.

Contudo, por baixo de toda essa aparente futilidade, existe uma profunda critica aos costumes e a sociedade da época, algo que, apesar do tempo, permanece atual e que serve para várias situações dos dias de hoje também. É evidente também a crítica a posição ocupada pela mulher no século XIX, fica claro o quanto a autora desprezava a forma como a mulher era vista e tratada no período – percebemos isto pelas várias passagens cheias de ironia –, bem como a ela via a si mesma e sua posição na sociedade inglesa dos anos de 1800.

O livro nos conta a história do romance de Elizabeth Bennet, uma jovem da aristocracia rural britânica do século XIX, que possui pouca ou quase nenhuma posse e vive com os pais e suas quatro irmãs e o Sr. Darcy, um homem rico, com um pé dentro da própria nobreza inglesa, que de familiares possui apenas uma irmã Georgiana, doce, meiga, tímida e gentil e uma tia, Lady Catherine de Boung, uma mulher amarga, orgulhosa e extremamente preconceituosa com relação as classes inferiores.

Devido a essa diferença social que os separa em mundos completamente diferentes, os dois irão se estranhar durante toda a história e o preconceito e o orgulho que ambos possuem quase irá impedi-los de verem o quanto se amam e o quanto os dois se completam e podem ser felizes juntos.

Darcy é um gentleman que de início rejeita Elizabeth, por conta do seu orgulho e posição social e vai tentar, de todas as formas, sufocar seus sentimentos pela jovem. Elizabeth, por sua vez, rejeitada, humilha e com orgulho ferido, vai odiá-lo desde o primeiro momento, tanto que será preciso que ocorram várias reviravoltas em suas vidas para que esses dois percebam o quanto são parecidos um com o outro.

Dessa forma, iremos mergulhar numa história onde a sociedade é cheia de preconceitos e desdém por parte dos mais ricos para com os mais pobres e humildes, por parte daqueles que se julgam mais evoluídos e bem-sucedidos por viverem nos grandes centros urbanos.

No entanto, um dos pontos mais interessantes desse livro é a maneira engraçada como tudo nos é apresentado – tendo boa parte desse humor centrado em algumas personagens como o pai das garotos, o Sr. Bennet, que é sem dúvida um dos melhores, se não a melhor personagem desta história –, além, é claro, da leveza e fluidez do texto, que muito me surpreendeu, pois temia que possuísse uma linguagem pouco clara devido à idade do próprio texto,  pois achava que, por conta disso, o texto teria uma linguagem de vocabulário difícil e extremamente monótona. Porém Jane Austen usa de uma linguagem simples, clara e direta para nos contar a sua história.

Foi interessante também perceber as diferenças de época que afetam as soluções dadas pela autora para as mais variadas situações. Coisas que hoje em dia são tão simples quanto comuns de se resolver para nós, naquela época eram muito mais difíceis.

Além disso, percebemos o quanto os passatempos das pessoas eram tão diferentes dos nossos. Enquanto que as personagens se divertem cantando musicas e tocando instrumentos, lendo livros em voz alta ou jogando jogos, nós hoje, na grande maioria dos casos, apenas vemos TV, ou ficamos em nossos computadores e smartphones em nossas redes sociais. Nossas conversas e jogos são, em sua maioria, através de meios eletrônicos e até mesmo para ver televisão cada um tem a sua e cada um assiste ao que gosta.

Apesar de o final ser extremamente óbvio, não é nele que reside o valor da história, mas sim na riqueza com que o livro é escrito. Orgulho e Preconceito é o tipo de livro que tem uma linguagem leve, fácil e rápida e que nunca deixa o leitor entediado, é uma história cheia de critica social e que quebra todos os paradigmas do seu tempo, mostrando o quanto a autora estava a frente da sociedade de sua época. É uma história que no final acaba deixando um vazio, um gostinho de quero mais que, sem dúvida alguma, nos deixa com saudade dessas personagens.

Raul G. M. Silva

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