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Fernanda Torres e o Globo de Ouro 2025: um marco para o Cinema Brasileiro e a verdade histórica

Foto do escritor: Raul SilvaRaul Silva

Atualizado: 6 de jan.

Por: Raul G. M. Silva, Teoria Literária.


A noite do Globo de Ouro 2025 ficará marcada para sempre na história da dramaturgia brasileira. Foi uma ocasião em que o talento, a memória e a verdade triunfaram em um dos maiores palcos da arte cinematográfica mundial. Fernanda Torres, uma das mais icônicas e versáteis atrizes brasileiras, conquistou o prêmio de Melhor Atriz em Filme Dramático por sua interpretação monumental em Ainda Estou Aqui, dirigido por Walter Salles e inspirado no livro homônimo de Marcelo Rubens Paiva. A vitória de Torres, em uma categoria tradicionalmente dominada por nomes consagrados de Hollywood, como Cate Blanchett e Saoirse Ronan, simboliza um marco não apenas para sua carreira brilhante, mas para o reconhecimento internacional do cinema brasileiro e de sua capacidade de contar histórias universais com raízes profundamente locais.



Fernanda Torres é uma artista que transcende as barreiras do tempo e dos gêneros. Desde seu papel premiado no Festival de Cannes em 1986, com Eu Sei que Vou te Amar, até suas interpretações memoráveis em séries como Tapas & Beijos e peças teatrais que desafiam convenções, sua trajetória é marcada por escolhas ousadas e pela profundidade de seus personagens. Com Ainda Estou Aqui, Torres alcançou um novo ápice artístico. No filme, ela interpreta Eunice Paiva, uma mulher que revisita seu passado e enfrenta os traumas de uma história familiar entrelaçada aos horrores da ditadura militar brasileira. A interpretação de Torres é visceral, marcada por um realismo emocional que transcende a tela, conectando o público às dores e às verdades de um período que ainda reverbera na sociedade brasileira.


Dirigido por Walter Salles, cineasta de renome internacional conhecido por obras como Central do Brasil e Diários de Motocicleta, Ainda Estou Aqui adapta com maestria o livro autobiográfico de Marcelo Rubens Paiva. O texto original é uma mistura pungente de memória e investigação histórica, expondo com detalhes pessoais e políticos o desaparecimento do pai do autor, Rubens Paiva, vítima das atrocidades cometidas pela ditadura militar brasileira. Salles, com sua sensibilidade e talento para transformar narrativas íntimas em reflexões universais, amplia a dimensão emocional e visual da obra literária, sem perder a essência de denúncia que permeia o livro. Sua direção cria uma atmosfera em que o íntimo e o histórico coexistem de forma poderosa, dando a Fernanda Torres a base ideal para entregar uma das atuações mais impactantes de sua carreira.



A vitória de Fernanda Torres no Globo de Ouro é carregada de significados. Em um contexto político e social em que a extrema-direita brasileira, impulsionada pelo bolsonarismo, tentou reescrever a história, negando crimes da ditadura militar e glorificando torturadores, o reconhecimento internacional de uma obra que confronta diretamente esses revisionismos é um ato de resistência. Nos últimos anos, vimos um esforço deliberado para descredibilizar narrativas como as de Marcelo Rubens Paiva, taxando-as de mentiras ou exageros. Nesse cenário, a aclamação de Ainda Estou Aqui e a premiação de Torres representam não apenas uma vitória artística, mas também um posicionamento político, reafirmando o compromisso do cinema como ferramenta de memória e verdade.


Esse prêmio coloca o cinema brasileiro novamente em destaque no cenário global, consolidando uma trajetória de conquistas recentes que inclui produções como Bacurau e Que Horas Ela Volta?. No entanto, a vitória de Fernanda Torres em uma categoria tão prestigiada como Melhor Atriz em Filme Dramático eleva essa presença a um novo patamar. Ela demonstra que nossas histórias, por mais locais que sejam, têm o poder de ressoar universalmente, tocando plateias ao redor do mundo e abrindo portas para futuras gerações de cineastas e artistas brasileiros.



A performance de Fernanda Torres em Ainda Estou Aqui não é apenas tecnicamente impecável; é profundamente simbólica. Sua Eunice não é apenas uma personagem, mas um veículo para as dores, os traumas e as injustiças de toda uma geração. Torres consegue transmitir, em cada olhar, gesto e silêncio, a angústia de quem perdeu e de quem busca incessantemente por respostas. Sua entrega emocional é tamanha que torna impossível para o espectador não ser impactado. Não à toa, sua vitória no Globo de Ouro foi recebida com aplausos calorosos e emocionados, sinalizando um reconhecimento global de sua arte e de sua importância para o cinema contemporâneo.


Com essa conquista, as expectativas para o Oscar 2025 aumentam consideravelmente. A Academia de Artes e Ciências Cinematográficas tem mostrado, nos últimos anos, maior abertura para narrativas globais e diversificadas, e Ainda Estou Aqui possui todos os elementos para se destacar. Além de Fernanda Torres ser uma forte candidata na categoria de Melhor Atriz, o filme de Walter Salles pode ser indicado em outras categorias, como Melhor Filme Internacional, Melhor Direção e Melhor Roteiro Adaptado. A temática do filme, que aborda a luta pela memória e pela justiça, é mais relevante do que nunca, especialmente em um momento global de crescente autoritarismo e polarização política. A mensagem de Ainda Estou Aqui transcende fronteiras, conectando-se com plateias de diferentes países e contextos.


A vitória de Fernanda Torres no Globo de Ouro e o reconhecimento de Ainda Estou Aqui são mais do que celebrações artísticas; são afirmações da importância de preservar a história, de confrontar verdades dolorosas e de usar a arte como uma ferramenta de transformação social. Para o Brasil, é uma oportunidade de reafirmar sua posição no mapa do cinema mundial, mostrando que temos histórias urgentes e talentos extraordinários. Para Fernanda Torres, é a coroação de uma carreira brilhante e a prova de que sua arte continua tão relevante e impactante quanto sempre foi. Em fevereiro, no Oscar, o Brasil pode escrever mais um capítulo dessa história. Mas, independentemente do que acontecer, a vitória de Torres já é um marco que ficará para sempre na memória do cinema brasileiro e mundial.



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