Sob a gestão de Raquel Lyra, Pernambuco tem sido palco de uma verdadeira tempestade administrativa, onde a folha de pagamento – este instrumento basilar da máquina estatal – se converte num mar revolto de erros crônicos. Servidores de todos os cantos do aparato público enfrentam, de forma contínua e implacável, descontos indevidos, a ausência de gratificações essenciais e, em casos extremos, até a suspensão integral dos salários. Dados apurados por sindicatos, como o Sintepe, indicam que desde julho de 2024 os erros se arrastam por seis meses consecutivos: cerca de 79% dos profissionais ainda não receberam o terço constitucional de férias, enquanto 13,4% têm seus vencimentos pagos abaixo do correto, e percentuais menores – porém não menos significativos – relatam a ausência de benefícios como a Gratificação da Educação Inclusiva.

Essa realidade, longe de ser um mero descuidado técnico, reflete uma estratégia – por vezes sutil e, em outras, abertamente agressiva – de enfraquecimento dos quadros que ousam questionar as políticas do governo. O TCE-PE, atento a cada incoerência, já recebeu inúmeras denúncias e instaurou investigações que buscam desvelar uma trama que, ironicamente, se disfarça de “limpeza” administrativa. Enquanto o governo se gaba de modernizar e depurar a máquina pública, a perseguição política se manifesta nos recortes imprecisos da folha de pagamento, convertendo o salário de cada servidor em um número truncado, como se o valor de seu trabalho fosse suscetível de ajustes arbitrários.
Nesse cenário, o servidor público – aquele que, com afinco e dedicação, contribui para a engrenagem do Estado – se vê não apenas lesado financeiramente, mas também humilhado pela própria instituição que deveria protegê-lo. A crítica é tão afiada quanto o humor sagaz que se faz necessário para enfrentar a realidade: é quase como se a administração tentasse “limpar” a máquina pública com um pincel torto, atingindo indiscriminadamente os profissionais que, ironicamente, sustentam o próprio aparato estatal.
No palco da negligência, o servidor se transforma na vítima silenciosa de uma administração que prioriza a narrativa política em detrimento da essência do serviço público. Cada erro na folha de pagamento não é somente uma falha contábil – é o reflexo de um descaso institucional que, por sua vez, corrói a qualidade dos serviços prestados à população. A constante omissão em corrigir esses equívocos cria um clima de desconfiança, um desgaste que se acumula como um pó invisível sobre a credibilidade do Estado.
Ao negligenciar os direitos básicos dos trabalhadores, o governo acaba por semear o terreno fértil da impunidade. Enquanto se exaltam em discursos de inovação e combate à corrupção, as denúncias – meticulosamente registradas por sindicatos como o Sintepe – denunciam uma realidade amarga: servidores desvalorizados, com salários que parecem flutuar num limbo de incertezas, e uma administração que, em vez de agir, parece optar por esquecer. É uma crônica de silêncio e omissão, onde cada folha errada narra a história de uma justiça adormecida, incapaz de reverter a maré de descaso que atinge a todos.
O humor rápido e irônico se mistura a uma visão quase trágica: enquanto o governo se exibe em gestos simbólicos e retóricas inflamadas, a verdadeira batalha se trava na rotina diária dos servidores, que aguardam por correções que parecem nunca chegar. Esse teatro de aparências não só fere os direitos dos trabalhadores, mas também compromete a prestação de serviços públicos essenciais, ampliando o ceticismo da população e o desgaste institucional.
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